A Defensoria Pública do Pará, por meio da Escola Superior, realizou, na manhã da última quarta-feira (04), o evento “Laço Branco”, em alusão ao “Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, celebrado no próximo dia 06. A programação foi organizada pela equipe do Centro Educativo “Eles por Elas”, vinculado ao Núcleo de Prevenção e Enfrentamento à Violência de Gênero (Nugen) da DPE-PA.
O evento contou com palestras e depoimentos no auditório do Prédio-sede da instituição, com o objetivo de sensibilizar os homens para o posicionamento contra a violência às mulheres, em busca de um novo olhar sobre a própria masculinidade e sobre a importância de caminhar ao lado das mulheres para a superação da violência de gênero. A programação reuniu assistidos do Centro Educativo “Eles por Elas” e assistidas do Grupo Reflexivo de Mulheres, também de autoria do Nugen.
A abertura do evento foi feita pelo defensor público e coordenador de Ensino e Pesquisa da Escola Superior, José Adaumir Arruda. Em seguida, foi formada mesa constituída pelas defensoras públicas Leiliana Santa Brígida, diretora Metropolitana e Larissa Machado, coordenadora do Nugen, e pelo defensor público Fábio Rangel, diretor de Inovação e Transformação Tecnológica. Fábio Rangel também proferiu a primeira palestra do evento, em que falou sobre a importância da equidade de gênero e relembrou os anos em que atuou no Nugen.
“A equidade visa tornar transparente que nem todos têm as mesmas oportunidades, nem todos têm a mesma força, nem todos têm os mesmos sonhos, os mesmos objetivos, mas todos são iguais perante a Lei. E a nossa Constituição diz isso. Eu fico muito feliz de que aqui, nessa instituição, a gente esteja com um projeto tão bonito que se reflete na presença dos senhores aqui”, disse o defensor público, em discurso direcionado aos assistidos do Centro Educativo “Eles por Elas”.
A fala foi seguida pela palestra de Rosana Faraon, psicóloga atuante no Nugen e idealizadora do Centro Educativo e do projeto “Reincidência Zero”. Ela discursou sobre o tema “Eles por Elas: Todos juntos pelo fim da violência contra a mulher”. Em seguida, a também psicóloga Críssia Cruz abordou aspectos relativos à violência de gênero e à cultura patriarcal na sociedade.
O evento também contou com as falas de assistido do Centro Educativo “Eles por Elas” e de assistida do Grupo Reflexivo de Mulheres. Pedro Paulo Lima, de 60 anos, frequentou os encontros do Centro Educativo. Ele foi convidado a dar o seu depoimento sobre o projeto, do qual participou após cometer um caso de violência doméstica. “Logo no início da caminhada, quando eu cheguei no meu primeiro dia de palestra, eu cheguei muito acanhado, muito triste e envergonhado. Sabe por quê? Eu achava que o promotor do meu processo estava me punindo. E só depois de algumas reuniões, eu fui entender que eu não estava sendo punido.[...] Ele percebeu que eu precisava de ajuda”, declarou o assistido.
Pedro Paulo compartilhou sua experiência e relatou os aprendizados que obteve durante a participação no projeto e como ele lhe ajudou a modificar seus pensamentos e atitudes. “Eu passei 63 dias dentro de uma penitenciária por causa de um surto de ciúme patológico. E o pior de tudo isso é que eu achava que eu não tinha cometido erro nenhum, eu achava que eu estava certo. Eu só fui perceber que eu tinha errado depois que eu me permiti ser tratado, depois que eu me permiti participar nas reuniões. E, hoje, eu reconheço que eu errei, mas eu fui preparado, treinado para perceber o problema de longe e não querer mais errar de novo”, contou o assistido.
Laço Branco
A campanha “Laço Branco” teve início em dezembro de 1989, quando um grupo de homens canadenses se organizou para declarar o repúdio pela violência contra a mulher. Eles elegeram um laço branco como símbolo. No Brasil, desde 2007, o 6 de dezembro é o “Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, instituído pela Lei nº 11.489.
A psicóloga Rosana Faraon explica o sentido das datas e do evento realizado, na última quarta, na Defensoria do Pará. “A importância da campanha ‘Laço Branco’ é exatamente a mobilização dos homens da sociedade pelo fim da violência contra as mulheres. Então, a gente reuniu, aqui, nesse auditório, aproximadamente 150 homens e trouxemos várias palestras em torno dessa temática da construção dos novos modelos de masculinidade, dos princípios da igualdade que eles devem construir no dia a dia deles em prol da mudança de mentalidades e da construção de uma sociedade mais empática, mais democrática de direitos, mais justa e que, sobretudo, valorize a figura da mulher numa perspectiva igualitária”, declarou.
Rosana Faraon também enfatizou a necessidade de que homens e mulheres estejam juntos nessa caminhada em busca da equidade de gênero. “Nós só vamos conseguir alcançar isso quando a gente caminhar juntos em sociedade, tanto os homens quanto as mulheres. Por isso, estiveram presentes aqui homens que participam dos nossos grupos reflexivos no Centro Educativo ‘Eles por Elas’, e mulheres do Grupo Reflexivos de Mulheres, que foram vítimas da violência. A gente quis criar essa oportunidade para que eles pudessem conversar, dialogar por meio dos depoimentos, e se tornarem sensíveis a essa causa e, assim, juntos, construir uma sociedade mais igualitária”, finalizou.
Centro Educativo "Eles por Elas"
O Centro Educativo “Eles por Elas” é um projeto existente há mais de 10 anos vinculado ao Nugen da Defensoria paraense. Ele é dirigido a homens que cometeram violência de gênero e que respondem a penas e medidas alternativas ou voluntárias. A iniciativa promove o acompanhamento psicossocial dos assistidos, com o propósito de gerar a reflexão de atitudes violentas e a construção de novos modelos de masculinidades, pautados na equidade, no respeito e na dignidade em relação à figura da mulher, como forma de impedir a reincidência.
Sobre a Defensoria Pública do Pará
A Defensoria Pública é uma instituição constitucionalmente criada para garantir a assistência jurídica integral, gratuita, judicial e extrajudicial, aos legalmente necessitados, prestando-lhes a orientação e a defesa em todos os graus e instâncias, de modo coletivo ou individual, priorizando a conciliação e a promoção dos direitos humanos.
Texto de Juliana Maués